Sorrir com gosto
Graças às novas técnicas, ter dentes perfeitos e saudáveis é possível. Um relato, na primeira pessoa, do prazer de voltar a sorrir.
Facetas, implantes…Os novos métodos dentários permitem-nos ter os dentes com que sempre sonhámos.
Uma das vantagens de ter amigas íntimas é que elas nos puxam para a Terra. Foi o que aconteceu comigo há uns meses, quando uma das minhas amigas da há mais de 20 anos, me perguntou: “Porque é que deixaste de te rir e passaste a fazer esse sorriso de princesa enfadada?”. Porque preferia ser uma princesa enfadada do que a irmã da Cinderela…
Quando os meus dentes de leite foram substituídos pelos definitivos, ganhei uma dentição nova e um problema. Do lado direito da minha boca faltava um canino. Uma assimetria irritante que os outros achavam engraçada e a mim me causava tristeza. Aos seis anos, comecei a invejar os dentes de pôr e tirar da minha avó. Nessa altura o meu objectivo na vida era crescer depressa, trabalhar depressa e pôr, ainda mais depressa, uns dentes iguais aos dela.
Aos 12 anos, quando algumas das minhas amigas passaram a usar aparelho, tentei convencer o dentista a pôr-me também um. Ouvi um rotundo não que me reduziu à insignificância de adolescente com dentes imperfeitos. Não me lembro como é que resolvi o dilema, mas a verdade é que, aos 20 anos, ria-me sem restrições. Mas, anos mais tarde, a coisa piorou muito. A falta daquele canino saltava-me aos olhos sempre que olhava para o espelho. Uma vez qualquer em que fui a um programa de televisão, caí na asneira de, depois, chegar a casa e olhar para mim própria no ecrã. E odiei-me! Foi nesse dia fatal que tomei a decisão de nunca mais mostrar os dentes a ninguém, nem a mim própria. E passei a treinar o tal sorriso de princesa enfadada. Treinei tanto e tão bem que. De facto, passei a usá-lo em todas as situações por mais engraçadas que fossem. Nada de gragalhadas! Sorrir sem mostrar os dentes tornou-se, em mim, um gesto automático. Claro que podia chegar ao dentista e pedir que me arrancasse os dentes todos e me pusesse uns de pôr e tirar. Ia ouvir a resposta que me tinham já dado muitas vezes: ”O que é importante é ter os dentes saudáveis, simétricos ou não”. Mas aos 30 e tal anos, pôr uma placa em cima e outra em baixo já não era o sonho da minha vida. Eu queria uns dentes direitos e naturais, que parecessem meus. E não aquela coisa que se via logo que era falsa.
Fiz mais uma tentativa para resolver o assunto com aparelho quando, há uns anos, todos passaram a andar de elásticos coloridos na boca. Mas o avanço da técnica e da estética continuava a não ter aplicação no meu caso. Ainda mais recentemente, toda a gente à minha volta resolveu passar do aparelho aos dentes novos. Não era aquela coisa de pôr e tirar da minha avó, mas o resultado final não era muito diferente.
As estrelas de Hollywood e da Globo mudavam a forma dos dentes e ficavam com bocas lindas. Se elas conseguiam, em dia eu ia lá chegar. Alguém haveria de fazer coisas daquelas em Portugal.
E não é que já fazem? Há uns meses, num congresso a que assisti por razões de trabalho, descobri que havis uma médica portuguesa que sabis fazer sorrisos iguais aos das estrelas de cinema. Na semana seguinte marquei uma consulta com Paula Sequeiros. Expliquei-lhe o que é que me afligia há mais de 30 anos. Vi fotografias de antes e depois de pessoas com bocas muito piores do que a minha e descobri o que são facetas: umas capas de porcelana, finíssimas, coladas por cima dos nossos dentes que, para isso, são milimetricamente limados. Pela primeira vez na vida estava perante alguém que me entendia e saí de lá, feliz, para ir fazer uma radiografia que permitia ver os meus dentes por dentro e por fora.
Na semana seguinte, perante a tal visão panorâmica da minha boca, tive um baque quando a ouvi dizer-me que tão importante como ter dentes bonitos era ter dentes saudáveis. Por uma fracção de segundos pensei que ia ouvir o mesmo sempre: “os seus dentes são óptimos. Deixe estar como está!” Mas não. Afinal, apesar das idas anuais ao dentista, os meus dentes não estavam tão bons como eu imaginava e tinha dois canais para tratar. Muitos anos de cigarros e escovagens mal feitas obrigavam, também, a uma passagem pela higienista. Ia pôr-me facetas, claro que sim! Mas só depois de tudo isto estar tratado.
Duas semanas depois, os meus dentes estavam limpos e saudáveis e os dentes provisórios estavam prontos. Durante quatro horas, Paula Sequeiros limou o que havia para limar. Estava a preparar os meus dentes para as famosas facetas. Mas, se era assim, porque é que tinha de ter aquela coisa provisória? “Temos de decidir se é assim que quer, se não há alterações a azer. Além disso, hoje as suas gengivas vão ficar muito sensíveis. Depois de limados, os seus dentes precisam de uma protecção, por isso, vamos pôr-lhe os provisórios”, explicou-me. Seja! Foram quatro horas intermináveis. Não porque me doesse, mas porque me assaltavam as dúvidas: e se eu ficar pior? Se não gostar do resultado? Sabia que, a partir daquele dia, não havia maneira de voltar atrás. Depois dos dentes limados, a única saída eram as tais facetas. Iam durar para sempre.Até ao fim da minha vida iria ficar com os dentes tal e qual como saíria dali…Os dentes provisórios, para contar a verdade toda, ficaram muito bonitos, mas notava-se que não eram meus. Quer dizer, eu notava! Fui a única. As minhas irmãs acharam que eu, finalmente, tinha resolvido pintar o cabelo para esconder os brancos. As minhas amigas acharam que eu estava mais gira e que a separação me estava a fazer cada vez melhor. Eu achava que os dentes provisórios eram ligeiramente rugosos e resolvi telefonar a perguntar se as facetas também seria assim. “Não, não! As facetas são lisas, mais do que os seus prórpios dentes”, prometeu-me Paula Sequeiros.
E chegou, finalmente, o grande dia. As facetas estavam prontas, tinhasm chegado de Espanha, onde são feitas, por um técnico especial que consegue o milagre de les dar um aspecto verdadeiro. Durante uma tarde inteira, cada uma das facetas de porcelana foi colada em cima de cada um dos meus dentes. No fim, quando olhei para o espelho, percebi porque é que os escritores romântico do século XIX descrevem os dentes das heroínas como pérolas.
São assim, agora, os meus dentes. Direitos, lisos, perfeitos e vão durar até ao fim da minha vida. Ao contrário da minha avó, não vou precisar de usar placa porque as facetas de porcelana me protegem os dentes e impedem as cáries e outras doenças. Uma ida por ano ao consultório de Paula Sequeiros e escovagens eficientes é tudo o que preciso.
Deixei de usar o “sorriso de princesa enfadada” e voltei a mostrar os dentes todos. Passei a ouvir coisas como: “Estás mais nova” ou “Puseste botox?”. Explico sempre que não, que mudei os dentes e voltei a rir-me como antes.
Autor: Maria João Vieira
Fonte: Revista ELLE
Data: Novembro de 2009